Só quem já teve ou tem filhos pequenos (ou é o adulto responsável por uma criança) consegue perceber que o desenvolvimento infantil se dá pelo viés da individualidade: cada criança tem seu próprio tempo de desenvolvimento, crescendo de acordo com seus próprios termos, afinidades e também dificuldades específicas. E em um mundo feito para adultos é comum que essas crianças se sintam desamparadas e incapazes de desempenhar sua habilidade mais natural: o aprender! 

Partindo deste ponto de observação, nasce o método Montessori: uma maneira de perceber a infância e suas particularidades, incentivando  a individualidade, a autonomia e o senso de responsabilidade das crianças, de forma transformadora.

Para ajudar os pais a entenderem mais sobre esse assunto, neste artigo, vamos falar sobre o método Montessori: seus principais fundamentos, um breve histórico sobre a sua fundadora e como ele é aplicado na educação infantil.

Qual é a origem do método Montessori?

O método Montessori é um conjunto de teorias, práticas e materiais didáticos iniciado, no começo do século XIX, por Maria Montessori, pedagoga e médica italiana. De acordo com as pesquisas de sua criadora, o método enfatiza a autonomia da criança, que possui liberdade dentro de limites bem estruturados, e respeito ao desenvolvimento natural das suas aptidões físicas, sociais e psicológicas. 

A partir dessa premissa, todo o ambiente que faz parte da rotina da criança deve ser adaptado para que ela consiga desenvolver a autonomia, e isso inclui desde o mobiliário, brinquedos e outros  objetos com os quais ela interage, assim como as regras do ensino escolar e da convivência em casa com a família. Portanto, não se trata apenas de um método de ensino escolar formal, mas de uma abordagem global em relação à educação infantil.

Breve histórico de Maria Montessori

Maria Montessori foi a primeira mulher a se formar em Medicina na Itália, em 1896. Seu primeiro trabalho foi como assistente no Hospital San Giovanni, em Roma, onde ela começou a se interessar pelos pacientes com deficiências mentais, e encontrou nas teorias de Édouard Séguin e Jean Itard a base para a construção de seu próprio método de ensino para pessoas com essas características. 

Com o objetivo de aprofundar seus conhecimentos em Pedagogia, ela matriculou-se novamente na Universidade de Roma. A partir de então, ela passou a utilizar bastante a psicologia para compreender a criança e as suas necessidades. Em 1906, ela foi convidada a coordenar a “Casa Dei Bambini”, um projeto social para ensinar os filhos de operários de um conjunto habitacional, onde boa parte das suas concepções sobre o ambiente escolar veio a tomar forma. Todo o mobiliário da casa passou a ser produzido em uma escala menor, que atendesse as necessidades das crianças, desde cadeiras, mesas e armários. Além disso, nessa casa, Montessori buscou aplicar em todas as crianças o método que ela já utilizava com crianças deficientes de 3 a 6 anos, e obteve ótimos resultados. 

Como funciona o método Montessori?

Montessori dizia que seu método “não contrariava a natureza humana” e, por isso, era mais eficiente que os métodos tradicionais de ensino, que são mais focados no aspecto intelectual. Para que o método Montessori funcione, é necessário que o professor tenha uma formação especializada, pois ele não age como alguém que irá transmitir o conhecimento para a criança, mas sim como um mediador entre o conhecimento e os pequenos, que são incentivados a serem autodidatas, dentro do possível. 

Ao contrário da educação seriada, o método propõe outras subdivisões por faixa etária, que misturam em uma mesma sala as crianças com até 3 anos de diferença. O objetivo é estimular o trabalho em equipe e fazer com que as crianças ajudem umas às outras em diferentes etapas de desenvolvimento. De acordo com Montessori, há três divisões importantes na faixa etária das crianças:

– Do nascimento até os 6 anos de idade, subdividindo-se de 0 a 3 anos (mente inconsciente) e de 3 a 6 anos (mente consciente). Esse é o período de caráter criativo e construtivo, sobre o qual será construída a psique da criança. Durante a mente inconsciente, ela construirá a linguagem, absorverá a língua materna, hábitos, costumes, memória, compreensão, raciocínio, sentimento, etc. Já na mente consciente, é a fase em que a criança age sobre o ambiente para desenvolver-se e construir novas aprendizagens.

– O período intermediário, dos 6 aos 12 anos, é marcado por mudanças psicológicas e físicas e, nesta fase, a criança desenvolve sua consciência moral. Também é o momento em que ela busca maior participação nas atividades coletivas, desenvolvendo a sua sociabilidade.

– O terceiro período é marcado pela puberdade, dos 12 aos 15 anos, e a adolescência, dos 15 aos 18 anos. Na puberdade, o indivíduo sente mais necessidade de fazer parte do grupo por afinidade. Também é um período de desenvolvimento da consciência crítica e da reflexão. 

Como é organizado o currículo escolar montessoriano?

É mais comum encontrarmos materiais originais escritos pela própria Maria Montessori que falam da educação infantil, pois ela trabalhava majoritariamente com crianças pequenas. Contudo, a sua pedagogia é aplicável desde o nível infantil até o nível universitário. Os materiais montessorianos estão ligados a cinco  áreas bases:

Educação Cósmica: se refere ao conhecimento das Ciências Sócio-históricas e Ciências Naturais

Linguagem: principalmente na educação infantil se encontram materiais de preparação da mão para a escrita, alfabetização, leitura e produção textual.

Vida Prática: ambiente onde as crianças desenvolvem a motricidade por meio de atividades cotidianas como lavar e secar louça, servir líquidos, pinçar, desenhar, pintar, recortar, colar, cuidar do meio ambiente e de si ao regar plantas, lavar as mãos, lavar a roupa, etc.

Educação Matemática: materiais que desenvolvam a noção de números, adição, subtração, divisão, multiplicação, etc.

Educação dos Sentidos: a criança desenvolve os sentidos por meio de materiais como as caixas de cores, de sons, de cheiros, de sabores, de texturas, dentre outros, além de desenvolverem conceitos como alto/baixo, pesado/leve, forte/fraco, liso/áspero, etc.

O princípio da educação montessoriana é primeiro desenvolver o caráter concreto do ser humano. Sua fundadora defendia que o caminho para o intelecto “passa pelas mãos”, pois é por meio do movimento e do toque que as crianças exploram e decodificam o mundo ao seu redor. Por isso, seu método utiliza materiais concretos para, a partir deles, a criança ir abstraindo os conhecimentos intelectuais.

Lembrete importante: hoje em dia, cada escola que aplica a metodologia Montessori pode ter interpretações diferentes, embora a essência seja a mesma. Mesmo organizando o conteúdo didático de maneira diferente da educação seriada, esses materiais precisam obedecer às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dentro das regras do MEC.

O método dentro de casa: disciplina positiva, ambiente seguro e educação emocional

Para além da escola, a casa é um ambiente onde a criança desenvolve também suas capacidades cognitivas e motoras. Por isso, muitos pais vêm investindo em espaços montessorianos para os pequenos no conforto do próprio lar. 

Nesse caso, existem duas vertentes a serem seguidas para trabalhar o método dentro de casa: a física e a emocional. Na física, é abordada a estrutura do ambiente. Ela deve fornecer liberdade suficiente para atender às necessidades físicas e psicológicas dos pequenos, permitindo que eles se habituem de maneira autônoma. Isso se traduz nos quartos Montessorianos, por exemplo.

Os quartos montessorianos são ambientes que conversam com as crianças, por serem projetados única e exclusivamente com itens funcionais que se aproximam da realidade infantil. Assim, a ausência de berço é uma das principais características desses espaços. Com um colchão confortável no chão, a criança fica livre para subir, descer, deitar e rolar sobre a cama sempre que quiser e sem a interferência de um adulto. Outros móveis, como   prateleiras, cômodas e mesas baixas adaptados, atendem à necessidade de explorar e acessar  brinquedos, roupas e objetos com mais facilidade.  

Os brinquedos também devem favorecer o desenvolvimento da criança, permitindo que ela explore, erre e aprenda com seus erros, fugindo da “fórmula pronta de brincar” dos brinquedos tradicionais.

No viés emocional, a exigência vem para os pais/tutores: o método montessoriano propõe que os adultos assumam a posição de observadores (sem deixar a segurança de lado), permitindo que o pequeno explore espaços à sua própria maneira. Sendo assim, a primeira coisa a ser trabalhada é a eliminação da palavra “NÃO”. Dar ordens o tempo todo limita o livre movimento, criando barreiras no seu aprendizado natural, além de tornar a comunicação adulto x criança menos eficiente. 

Globalmente falando, incentivar a curiosidade natural, e respeitar o ritmo e a autonomia da criança, deve ser premissa básica na rotina da casa. A criança deve ser estimulada a ser livre para aprender a desenvolver tarefas simples sozinha. Calçar os sapatos, escovar os dentes, guardar os brinquedos e alimentar-se são bons exemplos de atividades que contribuem com a aprendizagem independente e adequada ao que propõe o método montessoriano. 

Em breve, falaremos mais sobre o “brincar montessoriano” em um novo conteúdo. Acompanhe nosso blog!