Um assunto de grande relevância para toda a sociedade, e ainda pouco conhecido pela população, a conscientização a respeito do Autismo, tornou-se tema da campanha Abril Azul, marcando o mês com diversas ações voltadas para disseminar informação a respeito do Transtorno do Espectro Autista (TEA). O TEA trata-se de uma condição neurológica especial, que afeta especialmente as áreas da comunicação, comportamento e interação social. Identificar e compreender essa condição são passos importantes para que as pessoas que a possuem sejam ajudadas, respeitadas e incluídas.

São tantos os aspectos relativos aos cuidados com uma criança que precisam ser aprendidos pelas pessoas responsáveis por ela, não é mesmo?

Estar atento ao desenvolvimento neurológico desse pequeno ser que depende de nossos cuidados é também um deles! Isso porque, quanto mais cedo uma condição especial, como é o caso do TEA, for identificada, mais cedo se poderá realizar intervenções e melhores podem ser os resultados obtidos a partir delas. E a família tem papel fundamental na identificação dos sinais da existência do TEA, e no seu tratamento.

Com o objetivo de ajudar a disseminar informações, convidamos, para falar sobre o tema, Raquel Marques, neuropsicóloga e analista do comportamento, diretora clínica da Fórmula Núcleo Terapêutico Infantil e idealizadora da loja Fórmula Toys. A seguir, Raquel faz uma explanação a respeito da importância de diagnosticar o TEA e intervir precocemente, de como a intervenção precoce pode beneficiar o desenvolvimento da pessoa com TEA, e de quais os sinais aos quais precisamos estar atentos e que denotam a necessidade de haver uma avaliação profissional mais aprofundada acerca do desenvolvimento da criança.

“O símbolo do autismo é o quebra cabeça, que denota sua diversidade e complexidade. É uma condição complexa, e identificá-la requer a análise de inúmeros fatores. Observa-se que o número de indivíduos (especialmente crianças) com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo vem aumentando nos últimos anos. As razões desse aumento se explicam, em parte, pelo aprimoramento do diagnóstico e melhor preparo dos profissionais que atuam na área para realizar esse diagnóstico de forma precoce, o que é essencial para um melhor prognóstico do paciente.

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) engloba um leque de características que incluem certos prejuízos na comunicação e interação social, além dos padrões restritos e repetitivos de comportamento. Pode haver um prejuízo marcante no uso de múltiplos comportamentos não verbais que regulam a interação social e a comunicação.  Pode ocorrer uma falta de busca espontânea pelo prazer compartilhado, interesses ou realizações com outras pessoas. Podem ser afetadas habilidades tanto verbais quanto não-verbais, com atraso ou falta total de desenvolvimento da linguagem falada, ou dificuldade de iniciar ou manter uma comunicação, um uso estereotipado e repetitivo da linguagem. Para mais, podem estar ausentes os jogos variados e espontâneos de faz-de-conta ou de imitação social apropriada ao nível de desenvolvimento.

O TEA pode manifestar-se por meio de atrasos no desenvolvimento desde os primeiros meses de vida. Alguns bebês podem demostrar sinais precoces, como atraso do sorriso social, a preferência por objetos e brinquedos em vez de interação com faces humanas, a deficiência no olhar sustentado ou reciprocidade do olhar, as dificuldades graves de sono, o déficit de interação social e interesse no outro, o atraso na linguagem, a pouca comunicação não-verbal e do apontar, desde outros fatores. De modo geral são bebês que não demandam muito colo, que ficam bem sozinhos, que conseguem brincar isoladamente, que não exigem muita atenção dos pais.

Outras crianças podem ter um desenvolvimento dentro do esperado até por volta de 12 a 18 meses e manifestar perdas na linguagem e interação social após este período, o que se torna cada vez mais evidente para os pais e familiares devido à regressão.

A intervenção precoce torna a estimulação muito mais eficaz, mesmo que seja apenas uma suspeita, ainda sem diagnóstico fechado, pois quanto mais cedo começarem as intervenções, maiores serão as possibilidades de melhorar a qualidade de vida da pessoa.

Com a intervenção precoce, são oportunizados ganhos significativos no funcionamento cognitivo e adaptativo da criança, prevenindo o efeito cascata dos prejuízos. Além de treinar comportamentos e mudar a estrutura cerebral (neuroplasticidade), com a intervenção é possível o aproveitamento das janelas de oportunidades.

O tratamento para autismo deve ser personalizado e interdisciplinar. Além da psicologia, o paciente pode se beneficiar com fonoaudiologia, terapia ocupacional, entre outros, conforme a necessidade de cada autista. Já na escola um monitor pode agregar benefícios no aprendizado e na interação social.

Quando mais rápido os traços de TEA forem identificados, mais rapidamente será iniciada a estimulação e mais efetivos serão os ganhos no desenvolvimento neuropsicomotor. A decisão sobre qual terapia é a mais eficaz requer atenção muito especial por parte dos pais. Dentre as possibilidades de tratamento disponíveis para o TEA, está a Análise de Comportamento Aplicada, cuja sigla mais conhecida é ABA, do inglês, Applied Behavior Analysis.  Não se trata de modismo, como muitas outras formas de tratamentos atuais.

A Análise do Comportamento Aplicada tem origem no início do século 20 e tem como alicerce evidências experimentais sólidas e fidedignas. Os resultados de sua tecnologia encontram-se ampla e fartamente divulgados em periódicos científicos de reconhecimento nacional e internacional. ABA é uma ciência que se interessa pelo estudo das variáveis que afetam os comportamentos e sua aplicação não é exclusiva para o tratamento do Autismo.

O Modelo Denver de Intervenção Precoce (Early Start Denver Model) é uma terapia voltada para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) entre 12 e 48 meses de idade. Baseado na ciência ABA (Análise do Comportamento Aplicado), o Denver se baseia na interação entre familiares e terapeutas para utilização de brincadeiras e jogos que contribuam para a construção de relações positivas. O objetivo é aprimorar habilidades de linguagem, cognitivas e sociais.

Como o ambiente possui grande influência na tendência genética da criança, a intervenção precoce realizada com evidências cientificas, intensidade, perseverança, união e afeto, faz com que a criança se torne um ser humano com suas potencialidades desenvolvidas.

Por isso, deixo aqui um recado muito importante: Qualquer atraso no desenvolvimento merece atenção!

Alguns sinais de Autismo são:

  • Não manter contato visual por mais de 2 segundos;
  • Não atender quando chamado pelo nome;
  • Linguagem verbal fluida, mas de forma mecânica;
  • Hipersensibilidade auditiva;
  • Isolar-se ou não se interessar por outras crianças;
  • Alinhar objetos;
  • Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise;
  • Não aceitar a imposição de regras;
  • Não usar brinquedos de forma convencional;
  • Fazer movimentos repetitivos sem função aparente;
  • Não falar ou não fazer gestos para mostrar algo;
  • Repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem a devida função (ecolalia);
  • Não compartilhar interesse.;
  • Girar objetos sem uma função aparente;
  • Apresentar interesse restrito ou hiper foco;
  • Preocupar-se de maneira repetitiva e estereotipada com partes de objetos;
  • Não imitar;
  • Não brincar de faz-de-conta.

Se houver dúvida, não espere! Procure ajuda profissional e faça uma avaliação.

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Cada pessoa é única, e uma pessoa com TEA pode apresentar características ainda mais singulares. É um espectro tão diverso que pessoas com TEA podem ter ou não alguma deficiência intelectual, ou até mesmo surpreender por sua inteligência. Observar as inúmeras características que os indivíduos com TEA desenvolvem, nos faz pensar acerca da diversidade. Pensar em como podemos entender o outro, ajudar e incluir.

Neste ano de 2022, o tema da campanha Abril Azul é “Lugar de autista é em todo lugar!”, refletindo sobre a importância de incluir as pessoas com TEA em todos os âmbitos e aspectos de nossa sociedade.

Entendemos que divulgar informações é importante para que autistas possam ser diagnosticados adequadamente e ajudados no processo de desenvolverem suas potencialidades. Além disso, o conhecimento compartilhado ajuda a entender o que é diferente do comum. Conviver com as diferentes formas de interagir com o mundo e com as pessoas, observadas em autistas, é uma atitude que todos nós precisamos aprender.